quarta-feira, 8 de julho de 2015



O 13 de Maio na imprensa de São Paulo

Na atualidade, em pleno século 21, qualquer grande fato mundial é divulgado rapidamente. Um terremoto, como o ocorrido recentemente no Nepal, é notícia em Manaus em segundos. Um atentado no Iraque repercute em São Paulo rapidamente.
No passado, porém, notícias demoravam dias ou semanas para chegar em cantos próximos de um mesmo país. E foi desta forma, lenta para os padrões atuais, que a notícia da extinção da escravidão no Brasil foi chegando em nosso vasto território nacional. Na própria capital imperial, onde tudo aconteceu, a notícia foi impressa apenas no dia seguinte da assinatura da lei.
Divulgação
Na província e na cidade de São Paulo, que foram os dois atores nacionais mais importantes na luta pela abolição dos escravos, a notícia já era esperada por toda a população, mas chegou oficialmente ao Correio Paulistano, principal jornal paulista daquela época, apenas dois dias depois da assinatura da lei, com uma publicação do decreto na primeira página do jornal.
Divulgação - Correio Paulistano
Apesar da publicação oficial no jornal ter ocorrido neste dia, desde a véspera da assinatura da lei já se tinha a expectativa da abolição. A edição publicada na histórica data de 13 de maio de 1888, fazia menção de um convite da Câmara Municipal de São Paulo à população, expedido no dia anterior:
Correio Paulistano
Neste mesma edição de 13 de maio, comentaristas do jornal já teciam seus comentários e opiniões sobre a abolição, o peso da escravatura à Pátria Brasileira e o indelével protagonismo de São Paulo contra o que um dos colunistas chamou de “monolito da escravidão”:
Correio Paulistano
Retornando a edição do Correio Paulistano de 15 de maio de 1888, já é possível ler as primeiras opiniões da imprensa paulista após a lei ter sido promulgada. Um editorial do jornal faz referência a abolição como“maior revolução social e econômica” entre outros fatores:
Correio Paulistano
A Princesa Isabel é alvo de boa parte da exaltação da imprensa brasileira e não foi diferente com o jornal Correio Paulistano. As três notas abaixo tecem elogios calorosos a ela:
Correio Paulistano
Correio Paulistano
Correio Paulistano
Entretanto, é preciso lembrar que há vários brasileiros, ilustres ou não, que se fizeram como parte importante para o fim da escravidão no país. Um deles, paulistano, é uma figura tão importante para Lei Áurea quanto a Princesa Isabel: o Conselheiro Antônio Prado.
Antonio Prado em retrato de 1888
Antonio Prado em retrato de 1888
Um dos mais importantes paulistanos de todos os tempos, Antônio da Silva Prado, foi protagonista de uma trajetória política impecável e brilhante. Em sua carreira, foi deputado geral por São Paulo, Ministro das Relações Exteriores, Ministro dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas e Senador do Brasil. Posteriormente, já no Brasil República, seria também o primeiro Prefeito de São Paulo, cargo que exerceria por 12 anos.
Sua figura foi fundamental para o fim da escravidão no Brasil e nem sempre é lembrada nas comemorações pelo país. Segundo o historiador Pedro Calmon, é dele o primeiro esboço do que viria a ser a Lei Áurea. Em 20 de abril de 1888, Antônio Prado envia ao Rio de Janeiro um longo projeto de lei, sugerindo que se aproveitasse apenas o seu primeiro artigo, onde dizia: “Fica abolida a escravidão no Brasil”.
Foi este projeto de lei, conhecido como Lei Áurea, que foi votado e aprovado pela câmara geral em tempo recorde, nos dias 9 e 10 de maio de 1888. Nos dias 12 e 13 de maio a lei foi votada e aprovada pelo Senado e imediatamente enviada para a Princesa Isabel, que deu a sanção imperial.
Acima, a carta original da Lei Áurea
Acima, a carta original da Lei Áurea
“paternidade” da Lei Áurea não é um tema de consenso entre os historiadores brasileiros. Alguns defendem que foi criação do então Ministro da Agricultura, Rodrigo Augusto da Silva enquanto outros, como o já citado Pedro Calmon, atribuem a Antônio Prado. O São Paulo Antiga posiciona-se a favor da versão de Calmon.
Porém, é importante dizer que, seja o autor Rodrigo Augusto da Silva ou Antônio Prado, uma coisa é certa: a Lei Áurea tem alma paulista, pois ambos são cidadãos paulistanos.
Voltando aos jornais da cidade de São Paulo, o Correio Paulistano menciona largamente os festejos pela cidade, o protagonismo de Antônio Prado e a gratidão da população a sua pessoa, como é noticiado em 17 de maio de 1888:
Correio Paulistano
Inúmeros políticos e cidadãos ilustres brasileiros também fizeram questão de felicitar Antônio Prado pela abolição da escravidão, como este recorte da edição de 15 de maio de 1888 do mesmo Correio Paulistano:
Correio Paulistano
Por fim, a mesma edição de 15 de maio faz duas menções as grandes festividades na Cidade de São Paulo, por conta da assinatura da Lei Áurea. Os dois recortes abaixo dão uma boa dimensão de quanto a população paulistana vibrou e comemorou o fim da escravidão no país:
Correio Paulistano

Correio Paulistano
O dia 13 de maio de 1888 entrou em nossa história como um marco importante para o Brasil. Era o fim de uma vergonhosa herança portuguesa que não devemos nos orgulhar e nem nos esquecer.
É verdade que o Estado Brasileiro demorou muito para libertar os escravos, já que a Independência do Brasil foi proclamada 66 anos antes, em 1822. Mas libertar-se de um sistema existente no país desde o século 16 não teria como ser fácil.
A Lei Áurea foi a última etapa de um processo delicado, que começou em 1850 com a Lei Eusébio de Queiróz, que acabou com o tráfico negreiro, e posteriormente com a Lei do Ventre Livre de 1871 e a Lei dos Sexagenários, em 1885.
Saiba mais sobre a escravidão no Brasil:

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