domingo, 2 de agosto de 2015


VOYNICH
Um manuscrito surgiu ao conhecimento dos lingüistas e decodificadores em 1585 pelas mãos de John Dee, um personagem controverso que praticava magia e alquimia. Ele teria oferecido ao imperador romano Rodolfo II, ele era colecionador de obras de arte, Rodolfo II teria se deslocado até Praga na atual República Tcheca para adquirir o manuscrito por 600 ducatos, algo em torno de tres quilos e meio de ouro, Dee estava convencido de que o manuscrito continha segredos que ele não conseguia decifrar.

Gordon Rugg, cientista britânico da Universidade de Keele, tentou investigar por técnicas antigas da espionagem inglesa conseguindo recriar uma obra semelhante, porque ele supunha que se tratasse de uma farsa. Tudo isso foi desenvolvido na mente de Rugg por sua desconfiança em torno de um aventureiro, Edward Kelley, que teve renome neste período na Inglaterra por inventar línguas estranhas e por conhecer um sistema recém criado, o sistema Cardan de criptografia. Segundo Rugg, Edward Kelley teria elaborado o manuscrito para enganar Rodolfo II e participado de uma parte da fortuna adquirida com a venda. Ficou comprovado que tanto Kelley quanto John Dee estavam em Praga no ano de 1585.

Gordon Rugg utilizou o sistema Cardan que surgiu por volta de 1550, para tentar comprovar que a elaboração do trabalho seria relativamente simples e duraria por volta de tres meses. Edward Kelley foi preso por falsificação de documentos e por suas práticas de alquimia, tendo conseguido escapar no final daquele século e nunca mais ter aparecido. Ele acabou esquecido pelo povo da Inglaterra, assim como o manuscrito.

Em 1912, um colecionador de livros raros, Wilfrid M. Voynich chegou ao Colégio Jesuíta de Vila Mondragone em Frascati na Itália e adquiriu da instituição documentos antigos, sensacionalistas, etc e entre os documentos, o manuscrito que levaria seu nome.

Em 1919, Voynich tirou cópias do manuscrito e conduziu-as ao professor William R. Newbold pelo seu famoso trabalho prestado ao governo norte americano decifrando inumeráveis obras antigas. Newbold tinha 54 anos de idade, era professor de filosofia, homem de muita cultura e na época fazia investigações sobre a localidade em que estaria o Santo Graal. Muito provavelmente, as numerações que observamos nas folhas foram feitas por Voynich para tentar preservar a ordem do manuscrito, incorrendo no equívoco de não ter numerado as páginas, mas sim as folhas porque era esta a sua necessidade imediata, pois as cópias xerocadas de cada lado implicava no desprendimento das folhas e numerar as folhas era tão somente o que ele necessitava para não perder a ordem na remontagem.

Depois de dois anos de trabalho, Newbold anunciou seus primeiros resultados. Segundo ele, nas inscrições, havia a identificação da nebulosa de Andrômeda, conhecimentos dos cromossomos e sua respectiva função, além de aludir à telescópios e microscópios entre outros instrumentos. Amparado nos dados históricos levantados à respeito deste manuscrito, chegou-se à uma missiva assinada por Johannes Marcus Marci, reitor da Universidade de Praga que teria recomendado ao padre Atanasius Kircher, célebre criptógrafo da época. O reitor chegou à considerar em seu tempo, que o manuscrito seria pertencente à um certo Roger Bacon (que viveu no séc. XVI) e que teria chegado às mãos de Rodolfo II por meio de uma venda realizada por John Dee.

Partindo destes dados, Newbold passou a atribuir a autoria da obra à Roger Bacon, interpretando os conhecimentos mencionados na obra como pertencentes à Bacon, nisso Newbold foi contestado por um vasto número de decifradores alegando que seus resultados eram apenas parciais sem cobrir mais do que um quarto de toda a obra. A principal alegação dos opositores ao resultado de Newbold era de que Bacon não teria condições nem técnicas suficientes para conhecer em sua época as nebulosas espirais nem o núcleo celular.

Newbold não conseguiria terminar a sua decifração antes de morrer em 1926. Rolland Grubb Kent, amigo de Newbold deu continuidade ao trabalho iniciado por seu colega. Kent era um personagem bem recebido por uma parte da camada de historiadores de sua época, mas igualmente não conseguiria obter resultados significativos para elucidar a questão.

Os melhores decifradores incluindo especialistas das Forças Armadas dos EUA examinaram sem conseguir nenhum sucesso.

Em 1944, o cel. William F. Friedman, que na segunda Guerra Mundial conseguiu decifrar o código japonês, organizou um grupo multidisciplinador formado por matemáticos, astrônomos, historiadores e especialistas da criptologia internacional. Apesar do uso de maquinários aperfeiçoados e muita técnica, nada foi obtido chegando-se apenas à uma conclusão: a de que o manuscrito não foi escrito em inglês, ou outro idioma conhecido com técnicas de transferência de linguagem (método mais comum da criptografia e da falsificação de documentos antigos), porque em manuscritos falsificados, utiliza-se um idioma e as letras são trocadas por símbolos para se criar um texto com uma linguagem aparentemente diferenciada, mas que na verdade é apenas mascarada por simbologia trocada. Isso não foi percebido por Gordon Rugg.

Portanto, não se trata de uma linguagem latina, artificial ou inventada como se pensou inicialmente pelas conclusões de Rugg, principalmente porque as primeiras linguagens artificiais datam do século XVII sendo posteriores à Bacon. Neste sentido, as conclusões obtidas pela equipe liderada por Friedman, confirmaram que não se trata de nenhum idioma conhecido e mais do que isso, é uma linguagem autêntica. Segundo esta equipe, o resultado de Newbold foi por meio de uma intuição genial, porque o manuscrito altera sua técnica ao longo do conteúdo, como se as letras passassem a ter uso diferenciado de acordo com o tema, modificando o método de uso dos caracteres em certas partes. Tudo o que se pôde concluir em definitivo, é que o manuscrito não é uma falsificação nem um malogro criado com o intuito de uma mera brincadeira, ele é autêntico e mítico porque apresenta condições da flora e da vegetação muito diferentes do que temos atualmente, pois nenhuma das apresentações detalhadas coincidem com alguma vegetação existente no planeta nos dias de hoje, ou no passado registrado da Terra. Também porque alude para animais que igualmente já estão extintos, como o tigre-dente-de-sabre ou uma espécie de pequeno dinossauro.

W. M. Voynich morreu em 1930, sua esposa em 1960 e seus herdeiros o venderam a um livreiro de Nova York, Hans P. Kraus. Este chegou a pedir um milhão e cem mil francos, provavelmente empolgado com o alvoroço que existia em torno do assunto. Krauss afirmava que se interpretado, o manuscrito poderia valer até 10 milhões de dólares. Em 1969, o manuscrito de 235 páginas foi doado por Krauss à biblioteca Beinecke da Universidade de Yale onde se apresenta até hoje.

Nenhum comentário:

Postar um comentário